Protagonista do drama – Saiba o que Sean Goldman diz sobre o caso Sean

Por Gláucia Milício

O menino Sean Goldman, de nove anos, cuja guarda é disputada pelo pai biológico, o americano David Goldman, e pelo padrasto brasileiro, João Paulo Lins e Silva, foi ouvido nessa segunda-feira (15/6) no Setor de Psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. A responsável por entrevistar o garoto, a pedido da família brasileira, foi a professora Terezinha Feres Carneiro, especialista em terapia familiar.

O depoimento de Sean foi transcrito pelo tabelião do 13º Ofício de Notas e entregue em juízo para fazer parte dos autos (clique aqui para ler a ata notarial). A entrevista foi acompanhada para comprovação de sua imparcialidade pelo desembargador Siro Darlan, do Tribunal de Justiça do Rio; pela Analista Judiciária da Diretoria Geral de Gestão de Pessoas do TJ-RJ, Mônica Corrêa Meyer; pela representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Margarida Prado de Mendonça; pelo presidente do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente, Carlos Nicodemus; pela representante da Comissão Nacional para Infância e Juventude, Tânia da Silva Pereira; e pelo vice-presidente da OAB-RJ, Lauro Schuch, além de membros da família brasileira.

No depoimento, Sean diz que quer ficar no Brasil, quando a especialista pergunta se ele quer falar sobre “essa história de ficar no Brasil ou ir para os Estados Unidos”. O menino diz que quer respeito, que se sente desrespeitado pelo pai David Goldman e que este finge sofrimento.

Vale lembrar que o menino mora no Brasil com sua família brasileira há mais de quatro anos, mesmo tempo em que está afastado do pai. É fácil perceber que o depoimento reflete essa situação, assim como retrata a afeição à familia brasileira e a falta de intimidade com o pai biológico.

Em entrevista ao programa Good morning, America, da rede ABC, David Goldman disse, na terça-feira, que Sean estaria sendo treinado para esquecer o pai. Na entrevista, no entanto, o menino Sean afirma que David marca visitas e não aparece sem avisar. Segundo David, a informação teria vindo de análise feita pela Justiça brasileira.

Sean nasceu nos Estados Unidos e morou naquele país até 2004, quando, aos quatro anos, veio para o Brasil com a mãe, Bruna Bianchi. No país, Bruna obteve a guarda de Sean, pediu o divórcio e casou-se novamente com o advogado João Paulo Lins e Silva. No ano passado, ela morreu de complicações no parto da segunda filha. Lins e Silva, então, obteve na 2ª Vara de Família do Rio de Janeiro a posse e guarda de Sean, com o intuito de preservar o núcleo familiar já existente, antes da morte de Bruna. O pai biológico requereu na Justiça Federal que, de acordo com a Convenção de Haia, o menino retornasse aos Estados Unidos. Com isso, o caso que começara na justiça estadual do Rio, passou para competência federal.

Leia o depoimento de Sean

Entrevista com SRG – 15.06.2009

Local: Santa Casa da Misericórdia – Ambulatório Psiquiátrico Jorge Alberto – Rio de Janeiro. Professora: Terezinha Carneiro

Terezinha Carneiro — Então Sean, nós estamos vendo que estamos sendo filmados, não é? Porque vai ser importante tudo isso que a gente disser aqui. Eu trabalho lá na PUC atendendo famílias e crianças nas famílias e lá também grava as sessões pra depois a gente entender melhor o que aconteceu, não perder nada da sessão. Por isso que eles estão gravando.
Sean Goldman— Mas eles escutam?

TC — Eles escutam. Ah…eles escutam aqui, isso aqui é um microfone e aí do lado de lá eles estão nos vendo, nós não tamo(sic) vendo eles e esse microfone passa o som pra lá. Lá na universidade quando estou atendendo as famílias com os aluno eu às vezes levo as famílias lá atrás do espelho pra ver quem tá observando, explico porque que a gente tá gravando porque aí depois que eu faço isso, todo mundo se desliga do microfone, da câmera, já ficou sabendo o que que é, tá? Então, meu nome é Terezinha, eu sou uma especialista em atendimento de famílias. Família com criança, família com bebê, família com adolescente, família com adulto saindo de casa, famílias em geral que me procuram elas tem alguns problemas, por isso que elas procuram. Minha profissão é psicóloga, terapeuta de família. Então, as pessoas por que procuram psicólogo? Porque eles tão(sic) com alguns probleminhas que sozinhas às vezes elas não conseguem resolver. Tá? Então, nesse nosso encontro, nessa nossa sessão, eu queria que você me pudesse falar naturalmente, com toda a liberdade tudo que está passando pela sua cabecinha. O importante aqui hoje é a gente saber como é que você pensa, o que é que você sente, o que que você quer. Eu sei que você tá vivendo um momento de probleminhas, um momento difícil na sua família e eu queria que você começasse Sean, me falando sobre a sua família. Qual é a sua família, como ela é formada, como ela é constituída, a sua família?
SG — Humm, não entendi a pergunta.

TC— Não? É assim, às vezes eu peço para as pessoas desenharem a família.
SG — Ah, tá!

TC — Você prefere desenhar a sua família ou me falar?
SG — acenou com a cabeça positivamente)

TC — Então tá bem, você vai desenhar pra mim a sua família e depois nós vamos falar do seu desenho. Você prefere com lápis colorido ou lápis preto?
SG — Colorido.

TC — Colorido. Então pronto, desenha pra mim sua família. Todos os membros da sua família, inclusive você.
SG — Não tem cor de pele?

TC — Cor de pele? Qual que você acha que é cor de pele?
SG — A mais parecida é o vermelha

TC — Tá bem. Ah, desculpe
SG — Não. Vou fazer o rosto assim branco com o contorno preto.

TC — Você pode fazer do jeito que você quiser, mas depois você vai me falar sobre essas pessoas todas, tá bem?

(Pausa de 58 segundos)

SG — Eu não sou dos melhores
TC — Desenhistas? Mas não tem importância, o desenho a gente tá usando Sean, só como uma maneira da gente conversar, da gente se comunicar. Você não precisa ser um desenhista, tá? É só pra gente falar um pouco nesse início sobre a sua família.

(Pausa de 15 segundos)

SG — Hum, fiz coisa errada aqui
TC — Ah, não tem importância. Depois você me explica o que que você fez de errado

SRG — Ah, dá para fazer como uma boca
TC — Tá bem.

(Pausa de 40 segundos)

TC — Uhum

(Pausa de 90 segundos)

SG — Dá pra fingir assim como se fosse uma boca?
TC — Tá bem, tá legal, depois você me explica. Acaba de desenhar pra gente conversar um pouquinho sobre o desenho. Tá bem?
SG — Uhum.
TC —A gente tem várias coisinhas pra conversar. Aí depois do desenho a gente vai conversar. Vai botar cabelo em todo mundo?

(Pausa de 40 segundos)

SG — Hum, esqueci
TC — E quem são essas pessoas? Fala pra mim
SG — Mas eu ainda não terminei
TC — Ah, então termina. (Pausa de 15 segundos) Tem que botar todos os membros da tua família
SRG — Então vou precisar de outra…(mostra a folha de papel)
TC — Será? Não, acho que vai caber, tem essa parte de cima. Bom, vamos tentar botar todo mundo na mesma folha. (Pausa de 19 segundos) Tá faltando alguém?SG: Tá faltando os outros dois avós
TC — Tá bem. Então vamos lá
SG — E a minha irmã
TC — Então, vamos lá
SRG — Vou colocar a minha irmã aqui
TC — Tá bem
SG — Ainda é um bebezinho
TC —Um bebezinho? Quantos meses ela tem?
SG — Nove
TC — Como é que ela se chama?
SG — Chiara

(Pausa de 12 segundos)

TC — E quem tá faltando ainda?
SG — Meus dois avós, os outros
TC: Então vamos colocar os outros avós.

(Pausa de 49 segundos)

SG: Isso daqui ficou muito ruim
TC: Ué, por que?
SG: Cadê a mão?
TC: Ah, mas tudo bem. Você não precisa ser um desenhista, eu só quero que você me fale da sua família.

(Pausa de 20 segundos)

SG — Entrou mais alguém
TC: Devem ter entrado, né? Mas nós já sabemos que eles estão lá olhando a gente mesmo. Não tamo(sic) nem ligando pra isso, né?

(Pausa de 23 segundos)

TC — Hum, agora a família tá completa?
SG: Tá
TC — Então vamos identificar pra mim os personagens da família? Quem são as pessoas?
SG — Ainda falta um tio, mas tudo bem
TC — Tá, então vamos deixar. Eu já sei que tem tio, você pode falar dele mas no papel não vai caber. Vamos falar dessas pessoas, identifica cada pessoa pra mim. Quem são?
SG — O vô da parte da mãe
TC — Como é que é?
SG — Raimundo
TC — Raimundo. Coloca então Raimundo. Raimundo é o vô por parte da mãe. Essa é quem?
SG — Silvana
TC: Silvana?
SG: A vó da parte da mãe
TC — Tá, então coloca o nome da Silvana
SG — Esse é meu pai
TC — Esse é teu pai. Então escreve, o pai. Pai, como é que ele chama?
SG —João Paulo
TC — João Paulo, tá.
SG — Eu não consigo escrever Chiara aqui … então …
TC — Pode fazer iniciais
SG — Então vou colocar um C
TC — Um C, Chiara. Tua irmã de nove meses?
SG — Uhum
TC — Aqui. Hum, esse é você?
SG — Esse é …
TC — Esse você falou que são os avós outros, né?
SG — Ahan
TC — São os?
SG — Os avós …
TC — Avós paternos, né?
SG — Ana Lucia
TC — Ana Lucia. Então coloca. Ana Lucia, e o avô?
SG — Paulo
TC — Paulo? Paulo. Aqui, como é que é isso aqui? O teu pai tá com a mão atrás do teu ombro. É isso? Assim?
SG — É, assim.
TC — Assim?
SG — É
TC — Amigos? Legal. Que nome você daria para esse desenho?
SG — Minha família
TC — De família. É, minha família, tá bom. Então coloca o título. Sempre que eu peço para fazer um desenho, eu peço pra dar um nome para o desenho, colocar um título no desenho.

(Pausa de 90 segundos)

SG — Dá pra ouvir
TC — É. Eles estão falando alto né? Vamos prestar atenção lá não. Vamos prestar atenção aqui né? Hum, ainda botou um acento. Muito bem! Caprichando né?

(Pausa de 10 segundos)

SG — Esse ficou ruim
TC —Não, ficou legal. Ficou legal, bem legal. Então? Eu queria que você falasse um pouquinho pra mim, né Sean, de como é que é a tua convivência com essa família, vidinha, o seu dia a dia , não só com a família, que que você faz, onde você vai, o colégio.
SG — Segunda feira tem basquete
TC — Basquete. Você gosta de jogar basquete?
SRG — Gosto
TC — Só segundas o basquete?
SRG — Segunda e quarta
TC — Hum
SG — Basquete segunda e quarta. Que eu vou pra pro, eu acordo, às vezes faço o dever
TC — Que colégio você estuda?
SG — Escola Parque
TC — Escola Parque. Bonito lá né?
SG — Ahan. Eu acordo, às vezes faço dever, ééé, almoço e vou para a escola. Aí na escola eu estudo
TC — Tem muitos amigos?
SG — Tenho
TC — Qual amigo você gosta mais na escola?
SG — Ih, tem tantos
TC — Tantos! Nossa! Muitos que você gosta
SRG — É
TC — Em geral você faz o que com teus amigos? Além de encontrar no colégio, você sai com os amigos, faz programa em algum lugar?
SRG — Às vezes
TC — É? Que tipo de coisa você faz?
SG — Às vezes eu…a gente, a gente que resolve
TC — Na hora vocês resolvem. E com as pessoas dessa família? Que que você costuma fazer, além dessa convivência em casa? Você sai com esses avós?
SG — Eu saio
TC — Sai? O que que você faz?
SG — A gente resolve na hora também.
TC — Resolve na hora também. E com a tua irmãzinha. Como é que é? Você ajuda a cuidar, o que que você faz com a sua irmãzinha?
SG — É. Eu fico com ela

TC — Você fica com ela e o que que você faz? Brinca com ela?
SG — Brinco
TC — De que que você brinca com ela?
SG — Ah, das coisas que ela gosta
TC — É? Em geral ela gosta de que?
SG — Ah, eu faço umas brincadeiras nela que eu saio, assim, como se eu estivesse correndo atrás dela e a babá corre de mim, aí ela fica rindo
TC — Ahan, que legal
SG — Aí é uma brincadeira que ela gosta
TC — Que ela gosta. Legal, bem legal. Então Sean, essa é a sua família, que você chamou de minha família, que mora aqui no Brasil, né? Mas eu sei que você nasceu lá nos Estados Unidos, em Nova Jersey. Você se lembra de lá? De quando você morava lá?
SG — Lembro
TC — Lembra? Do que você lembra?
SG — Que era … frio.
TC — Que era frio?
SG — É
TC — Mais o que você se lembra, além de que era frio?

SG — (Silêncio – Bota a mão na cabeça)

TC — Então, você pode assim, queria dizer pra você, né Sean, que nessa, que nesse nosso encontro, aqui, hoje, é importante que você possa falar tudo o que passa pela sua cabecinha, sem ficar preocupado, sem ficar achando, que isso, né, eu sei que você tá vivendo essa, esse momento difícil, você sabe que nós estamos aqui pra falar também dessa situação, se você fica no Brasil, se você vai para os Estados Unidos e eu queria te dizer assim, que isso é decisão pra adulto, você tem o direito de dar a sua opinião e é muito importante que a gente possa escutar você, saber o que você sente, saber o que que você quer, mas é importante também, Sean, que você saiba que não é você que vai decidir isso, tá? Isso eu falo sempre pras famílias que eu atendo. Isso é decisão de gente adulta, mas os adultos para decidirem é importante que eles possam levar em consideração o que você quer, o que você pensa.

SG — O que eu quero é ficar aqui no Brasil!
TC — Você quer ficar no Brasil?
SG — Eu quero ficar no Brasil!
TC — Quer ficar no Brasil. E porque que você quer ficar no Brasil? Diz pra mim. Eu até posso entender depois que você me disse que essa é sua família, mas eu queria que você me falasse mais um pouquinho de porque que você quer ficar no Brasil
SG — Porque aqui eu tenho minha família que eu gosto…
TC — Hum…
SG — a família que é meu pai, a minha irmã …
TC — Uhum…
SG — os meus avós, eu quero ficar aqui!
TC — Como é que você imagina se você fosse pra lá, como é que seria, nos Estados Unidos?
SG — Eu não gosto. Nem imagino
TC — Nem quer imaginar?
SRG — Nem imagino
TC — Nem imagina. Nem imagina
SG —Deve ser muito ruim. Eu não vou gostar!
TC — Você não vai gostar? Por que que você acha que não vai gostar? Me explica um pouquinho que é importante a gente saber isso, o que que passa pela sua cabecinha em relação a esse assunto
SG — Porque aqui eu tenho a minha família, eu não vou gostar porque vou ficar longe da minha família e eu tô acostumado… talvez eu nunca mais veja eles se eu for pra lá
TC — Humm, você tem medo disso, de nunca mais vê-los?
SG — E que eu vou pra lá, eu quero ficar aqui
TC— Uhum. Você não consegue lembrar de nadinha de lá? Da época em que você, você morou lá até os quatro anos, não foi ? Não consegue lembrar de nada?
SG — (fez o gesto de negativo com a cabeça)
TC — E do David? Do que que você lembra do David?
SG — É … que ele mudou muito
TC — Mudou muito?
SG — Mudou. Ele agora esta se fazendo, de mais ou menos assim, como se fosse sofrido

TC — Humm. Você acha que ele se faz de sofrido? Como é que é isso?
SG — Ele agora tá fingindo que ele tá muito sofrido, ele tá fingindo, dá pra perceber
TC — Você acha que é fingimento, você não acredita muito então?
SG — Eu não tenho confiança nele. Ele fala que vai…é…vir me visitar e estragou meu final de semana, eu tinha uma viagem marcada pro Beach Park e ele estragou meu final de semana falando que ía vim aqui me visitar, aí eu fui ali e fiquei esperando com o, com o advogado lá do Sergio e eu fiquei esperando várias, a gente ficou esperando muito tempo, muito tempo, muito tempo e acabou que ele não apareceu
TC — Não apareceu?
SG — Não apareceu
TC — Depois de ter marcado com você?
SG — Depois de ter marcado. E essa foi a terceira vez
TC — Que chato né? A terceira vez que ele marca e não vem. Aí fica difícil de confiar, né?
SG — É
TC — Fica difícil confiar. Mas, mas você sabe, né Sean, que ele sendo seu pai biológico, você sabe, né, que ele tem alguns direitos, né, de te visitar, agora ele marcar essa visitação desse jeito sem te dar garantias de que quando ele vem, ele diz que vem e ele não vem.
SG — Não, ele não liga, não avisa
TC — Pois é, te deixa muito chateado e eu entendo que você fique chateado. Eu entendo. Isso dificulta até o seu contato com ele, né? Você gostaria de ter algum contato, eu já entendi que você não gostaria de ir morar nos Estados Unidos, isso eu já entendi. Mas você gostaria, assim, de ter algum contato com ele?

SG — Não
TC — Como seu pai biológico?
SG — Não
TC — Nem nenhum contato?
SG — Nenhum
TC — Você prefere não ter nenhum contato?
SG — Prefiro
TC — Mas você sabe que ele tem direito a esse contato?
SG — Eu sei, mas eu não gosto
TC — Não, eu tô entendendo que você não goste, eu só queria, né, que nem eu tava dizendo que você não precisa ficar preocupado que a tua palavra ela vale muito, a tua palavra, mas você não precisa ficar preocupado, que a decisão final é você que vai tomar. Você gostaria de tomar essa decisão final? Que você tivesse a responsabilidade de tomar essa decisão final?
SG — A única coisa que eu quero é ficar aqui no Brasil
TC — Você quer, então pronto
SG — Quero!
TC — Que os adultos saibam disso. Que quem vai tomar essa decisão saiba disso
SG — Que todos os juízes, que todas as pessoas saibam
TC — Que todas as pessoas, os juízes, quem quer que vá trabalhar nesse caso, saibam que o seu desejo é ficar no Brasil
SG — Claro.

TC — Isso é importante você poder dizer assim, com essa liberdade, né? Que você, como a gente combinou no início, eu queria que você me falasse o que passa pela sua cabecinha, o que você sente, com toda a liberdade e é isso que você sente. Uhum
SG — Se eu for pra lá eu vou começar a quebrar tudo, eu não vou gostar
TC — Vai quebrar tudo?
SG — Eu vou ficar maluco.

TC — Não, não vai ficar maluco. Você acha que vai ficar maluco?
SG — Eu quero ficar aqui no Brasil
TC — Eu já entendi Sean, eu já entendi. Vamos ver, vamos torcer para as pessoas, os adultos que vão tomar essa decisão, né, poderem entender isso que está se passando dentro de você. Eu entendo, como psicóloga de família, eu entendo que se você me desenha que a sua família são essas pessoas é mais do que legítimo que você queira ficar com essas pessoas, são as pessoas com as quais você tem os seus vínculos, é o seu pai, são os seus avós e a sua irmã, né? É aqui, como você falou, que tá a sua família. Eu entendo, né, a gente precisa ver daqui pra frente, se as pessoas, como eu te disse, não é você que vai decidir, mas a sua opinião é muito importante, vamos ver se os adultos, né Sean, que tem que tomar essa decisão, como é que eles vão lidar, né, bom que tem até uma, um desenho pra ser mostrado, né, a gente pode até mostrar pras pessoas que estão vendo lá do outro lado como é que você desenhou a sua família, né? Eu queria que você me falasse um pouquinho mais do que, assim, como é que é você que disse: eu quero ficar no Brasil, porque aqui é que eu tenho a minha família, meus amigos, minha vida, eu queria que você falasse um pouquinho mais dessa família, desses amigos e dessa vida. Porque pra nós isso já está claro, mas talvez precise ficar um pouquinho mais claro para outras pessoas, até pessoas que vão influenciar nessa decisão.

SG — Aqui, meu avô …
TC — Seu avô. Vamos ver, eu sou velha e só enxergo com óculos Sean, Raimundo
SG — Raimundo. Ele é muito legal, ele faz tudo para eu ficar bem
TC — Que legal ter um avô assim, hein?
SG — A minha avó também
TC — Silvana
SG — É. Toda a minha família, faz tudo para eu ficar como eu quero
TC — Que legal. O que que é esse tudo, quando você fala assim: faz tudo para eu ficar bem. De que que você lembra, sobre-tudo, quando você tá falando isso da, do vô Raimundo e da vó Silvana, por exemplo?
SG — Quanto eu tô com dor de cabeça, eles pedem na farmácia o remédio
TC — Uhum
SG — Quando eu tô com sono, eles pedem pra pessoa arrumar minha cama para eu dormir
TC — Uhum
SG — É
TC — Ou seja, estão sempre providenciando o seu bem estar. Cuidando de você. E aqui, esse nucleozinho aqui? Papai, a Chiara e você, como é que é essa relação?
SG — Muito boa
TC — Muito boa. Me conta um pouquinho. O que vocês fazem
SG — A gente vai para o cinema, a gente vai para a praia, a gente viaja junto, a gente faz um monte de coisa
TC — Uhum. O que que você mais gosta de fazer, quando você está com o teu pai e a Chiara?
SG — Sair
TC — O que que é? Sair?
SG — A gente passear
TC — Passear. Qual o passeio que você mais gosta?
SG — A gente vai andar no calçadão, a gente vai no … shopping.
TC —Ai que legal. Em geral saem só vocês três ou vai mais alguém junto?
SG — Vai a babá
TC — A babá vai. Pra cuidar da Chiara que ainda é pequeninha e ainda está nas fraldas. E essa mão aqui, bem no ombro, hein? Como é que é isso? Conta pra mim
SG — É que toda vez a gente anda abraçado, eu e meu pai, mesmo que seja no shopping, em todo lugar
TC —Que legal, que legal. E aqui, esses outros avós, Ana Lucia ou Luiza? Lucia
SG — Lucia
TC — Ana Lucia e Paulo. Como é que é com esses avós? O que você faz sobre tudo, como é que é com eles?
SG — O meu avô Paulo, ele tem uma fazenda de cavalos e a gente vai andar de cavalo, vai fazer um monte de coisa. Muito legal!
TC —Que legal. Você vai assim, sempre na fazenda, quantas vezes?
SG — Sempre não, quando eu quero eu vou
TC — Uhum. Quando você quer, é só falar que você quer ir pra fazenda, dá pra ir
SG — É, e nos finais de semana
TC — No final de semana. É aonde a fazenda? Muito longe?
SG — Não, não sei assim direito aonde é
TC — É quanto tempo assim, mais ou menos que leva?
SG — Uma hora e meia
TC — Uma hora e meia? Pertinho
SG — Uma hora e meia ou duas horas ou uma hora
TC — É perto também né?
SG — É
TC — É bem pertinho. E me fala um pouquinho mais pra mim assim do colégio. Você gosta da Escola Parque? Eu acho que aquela escola é uma escola legal. Agora, você gosta?
SG — Uhum. Adoro a Escola Parque
TC — Gosta da Escola Parque. Você sempre estudou lá ou antes você estudou em outro lugar?
SG — Eu estudei na Escola Americana antes, mas a Escola Americana…eu não curti a Escola Americana
TC — É, quanto tempo você ficou na Escola Americana?
SG — Acho que um ano
TC — Um ano? E o que que você não gostou lá? Que você não curtiu?
SG — Lá eu não aprendi a falar Português, era só Inglês
TC — Só falava Inglês. E aí você queria aprender a falar na escola Português? Porque você falava Português em casa, né?
SG — É
TC — Você achava importante falar inglês pra quando você fosse nos Estados Unidos saber falar inglês, quando você fosse pela Europa, pelos países que falam inglês…
SG — Não…
TC — Você não achava isso tão importante. Você pode estudar isso
depois, né?
SG— É, eu também já sei o básico.
TC — Já sabe o básico. Você consegue entender tudo em inglês?
SG — Tudo não.
TC — Não, muita coisa.
SG — É.
TC — E do colégio você disse que tinha muitos amigos, mas assim, tem um amigo especial? Eu sei que a gente tem.
SG — Não.
TC — Tem algum amigo mais chegado assim?
SG — Não.
TC — Os mais chegados são quantos amigos, mais ou menos?
SG — Ahn, todos.
TC —Todos. Quando você faz uma festa, você faz festa de aniversário?
SG — Ahan
TC — E aí você convida todos os amigos? Igualmente todos?
SG — Uhum.
TC — Na tua turma tem mais meninos ou mais meninas?
SG — Mais meninos.
TC — Mais meninos. E você se dá bem tanto com os meninos como com as meninas ou se dá melhor com uns do que com outros?
SG — É a mesma coisa.
TC — Mesma coisa. As brincadeiras…
SG — São as mesmas.
TC — São as mesmas. Com os meninos e com as meninas. Então Sean, tem mais alguma coisa que você gostaria de me falar sobre a sua família, sobre o seu colégio, sobre essa história de fica no Brasil, vai pros Estados Unidos, sobre qualquer outra coisa que você queira falar?
SG — Não quero. O que eu quero é respeito.
TC — Respeito? Você está se sentindo desrespeitado?
SG — Tava presente. Sempre que ele vem fazer uma visita, tem alguém presente.
TC — Até hoje é assim?
SG — Até hoje.
TC — E a primeira foi com a sua psicóloga?
SG —Foi.
TC — E onde foi? Em que local?
SG — Sempre é no…no condomínio.
TC — No condomínio onde você mora?
SG — Ahan.
TC — Tá.
SG — E quando eu tava de saco cheio, eu falei: eu quero ir embora.
TC — Nessa primeira visita?
SG — Na primeira visita. Aí ele falou: depois a gente se encontra. Eu falei: não, agora, por hoje chega. E ele: Não! Hoje não chega! Ele…
TC — Te desrespeitou, você acha?
SG — É.
TC — Desrespeito isso.
SG — É. Ele também me desrespeitou que eu ia viajar, ele faz uma…uma…ele combina uma coisa e não vai.
TC: Muito chato isso, né Sean? Muito chato. E você já falou isso pro David, que você queria ser mais respeitado por ele?
SRG: Ainda não.
TC: Não? E você gostaria de falar isso pra ele?
SRG: Gostaria.
TC: Então, seria importante…
SRG: …e gostaria que ele visse esse vídeo!
TC: Esse vídeo de agora?
SRG: Talvez.
TC: Ah…isso aí você decide depois.
SRG: É…
TC: …com as pessoas. Eu acho que vai poder ver, porque esse vídeo nós estamos fazendo, com o objetivo principal, Sean, de você falar livremente a sua opinião.
SRG: A minha opinião é que eu quero ficar aqui no Brasil.
TC: Pois é, você já tinha falado, já tá gravado no vídeo. E você repetiu, né? Então você gostaria que o David assistisse a esse vídeo.
SRG: E repito mais uma vez: quero ficar no Brasil!
TC: Quer ficar no Brasil. Eu já entendi isso perfeitamente.
SRG: Mas tem pessoas que daqui a pouco…
TC: …que ainda não…
SRG: …não entenderam…
TC: …que ainda não entenderam. Então, voltando a essa historia do desrespeito, né Sean, a gente quando se sente desrespeitado ou quando tá chateado com o pai, com alguém, com David, com um amigo, com a irmã, sua irmã ainda não dá pra falar, né?
SG — É.
TC —Mas é muito importante que a gente possa falar o que a gente tá sentido, então, eu acho importante que você possa falar pro David que você se sente assim, né? Não só pro David, mas pro teu amigo, se o teu amigo te desrespeitar você poder dizer pra ele que se sentiu desrespeitado, não é? Porque quando a gente fala o que a gente tá sentindo, fica muito aliviado…
SG — …tira um peso das costas.
TC — Isso, tira um peso das costas, que nem eu imagino que você esteja tirando um peso das suas costas dizendo o que você pensa aqui hoje, né? Agora, vamos ver como é que as coisas, eu vou torcer para que esse seu desejo de ficar no Brasil…
SG— …seja cumprido…
TC — …seja realizado, não é? Porque eu tô entendendo…
SG — …eu também espero…
TC — …que você quer muito ficar no Brasil. Mas, como eu te disse, a decisão não é sua. Essa é uma coisa para adultos decidirem e vamos ver se os adultos, né, vamos ver…
SG — …vão me escutar…
TC — …vão te escutar, vão ver o que que é melhor pra você, né? Você que contou pra mim e tá gravado no vídeo essa história, história da tua família, sua história no Brasil, né, os vínculos que você tem aqui, a família, os amigos, o colégio, né? Tudo isso é muito importante na vida das pessoas. Tá bem Sean, tem mais alguma coisa ainda que você queira falar?
SG — Não
TC — Podemos então encerrar nosso encontro de hoje?
SG — Tá bom
TC — Tá bem, então te desejo muito boa sorte, viu?
SG — Obrigado
TC — Foi muito legal conhecer você e ter podido ter esse encontro.

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