por Marcos Guterman
Os palestinos talvez estejam melhor sem um Estado. É o que sugere o cientista político Jakub Grygiel, da Universidade Johns Hopkins, em artigo publicado na Policy Review. Grygiel fala em tese – ele não cita especificamente os palestinos. Mas sua elaboração, relativa a “povos sem Estado”, pode ser aplicada ao caso.
O acadêmico explica que, entre os séculos 17 e 20, o Estado “se tornou a principal aspiração política”. Para participar das instituições internacionais e, dessa maneira, obter ajuda internacional, formar alianças e influenciar outros Estados, “um grupo tinha de ter o poder de um Estado por trás dele”. Assim, povos sem Estado eram insignificantes, do ponto de vista político.
No século 21, o cenário mudou drasticamente, diz Grygiel. E ele lista as razões:
1) O Estado não é mais a única maneira de organizar e administrar grandes grupos. As novas tecnologias, principalmente em comunicação global, fornecem coesão e força a um grande número de indivíduos dispersos.
2) A proliferação de armas e de tecnologias de duplo uso (militar e civil) desafia o monopólio da violência dos Estados ao permitir que indivíduos ou pequenos grupos de pessoas representem sérios problemas de segurança.
3) A presença das grandes potências, especialmente da potência americana, com grande capacidade de destruir outros países, serve como incentivo para se manter sem Estado. Um grupo sem Estado reduz a chance de ser alvo de retaliação, ampliando a capacidade de sobrevivência.
4) Muitos dos modernos grupos sem Estado advogam idéias radicais, a partir de pontos de vista religiosos extremistas, tornando-os menos interessados em estabelecer Estados. Um Estado requer algum tipo de compromisso político e, mesmo que tenha perfil totalitário, raramente consegue atender às expectativas dos extremistas, que tendem a se frustrar com soluções institucionais.
Assim, não ter um Estado facilita a vida do grupo em questão. “Na verdade, esses grupos são muito mais capazes de atingir seus objetivos e manter sua coesão social sem o aparato do Estado”, porque o Estado “é um fardo para eles”, ao passo que a condição de “sem-Estado” lhes dá imenso poder.
No caso dos palestinos, diz Robert Kaplan ao comentar o artigo Grygiel, os líderes radicais podem não querer realmente um Estado, porque isso significaria ter de reconhecer Israel, conviver com ele e respeitar as regras da diplomacia internacional, reduzindo seu poder moral e estratégico. Desse modo, a perspectiva de um conflito israelo-palestino infinito, a despeito das gestões do governo Obama, é bastante real.