Senadores apresentam documento com propostas para moralização da Casa

por Adriana Vasconcelos

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) leu em plenário nesta quarta-feira um documento com propostas de oito senadores com o objetivo de tentar resolver a crise instalada no Senado com a série de denúncias dos últimos meses. Entre as propostas, está a demissão imediata do diretor-geral Alexandre Gazineo e todos os diretores. Os senadores querem ainda que o novo diretor-geral seja sabatinado e tenha o nome aprovado pelo plenário, com mandato fixo.

Tasso leu as propostas em plenário, com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), presente. Sarney não fez nenhum comentário. Na terça-feira, acuado, ele usou a tribuna para se defender das acusações de usar os atos para nomear parentes, e dizer que a crise não é dele, mas do Senado.

As propostas que serão levadas a Sarney são:
– Demissão imediata do diretor-geral Alexandre Gazineo e todos os diretores.

– Indicação de novo diretor, que deve ser sabatinado e aprovado pelo plenário, com mandato fixo.

– Que o novo diretor apresente uma proposta de reforma administrativa no Senado prevendo redução de pessoal e suspensão de novas contratações.

– Eliminação de vantagens consideradas acessórias para o cumprimento do mandato do senador; avaliar quais verbas extras devem ou não ser mantidas.

– Auditoria externa de todos os contratos do Senado.

– Investigação do caso do ex-diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi (créditos consignados) e que os atos secretos sejam investigados por um agente externo (PF ou MP)

– Reunião mensal do plenário para analisar e votar atos aprovados pela Mesa; e para definir a pauta de votação no plenário (hoje decidida pelos líderes)

A lista com as reivindicações foi elaborada em reunião nesta quarta feira entre os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) , Tião Viana (PT-AC), Sérgio Guerra (PSDB-PE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Pedro Simon (PMDB-RS), Renato Casagrande (PSB-ES), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Tasso Jereissati (PSDB- CE). Eles também vão buscar o apoio de outros parlamentares.

– Não foi uma reunião de um grupo ético. Nosso interesse é mobilizar o maior número de senadores – disse Jarbas, esclarecendo que o grupo vai estabelecer um prazo para que Sarney, depois que receber o documento, adote as providências.

Na opinião de Jereissati, esse é o melhor caminho:

– É preciso que se acabe com a suspeita de que haja qualquer proteção.

O líder do DEM, Agripino Maia (RN), avaliou as propostas como “muito boas”. Após a leitura do documento, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) tentou minimizar a crise enfrentada pela Casa e classificou a iniciativa suprapartidária como “uma lua de mel com a derrota”.

– Tudo aqui é tomado em decisão conjunta. Agora, para se criar um debate dentro desta Casa, procura colocar um funcionário da Casa como sendo um dos homens mais poderosos no Senado, o que é uma mentira. Mais poderoso para mim, aqui dentro, é o presidente que foi eleito por nós – disse Salgado.

– Agora, vem todo o mundo com uma série de ideias, parecendo que isso (os problemas) não acontece numa discussão, no Colégio de Líderes, dentro da Mesa Diretora. Essas discussões sempre aconteceram, desde que estou aqui. A gente está vivendo o quê? Um grande teatro. Parece que a verdade está aqui, mas nós não vamos tocar nela, vamos passar pelo lado. O que está existindo aqui é uma lua de mel com a derrota – completou Salgado, que é suplente do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

De imediato, Tasso Jeireissati rebateu, afirmando que Salgado nunca participou de uma eleição, por isso, não estaria preocupado com a repercussão negativa da crise do Senado perante a opinião pública.

– Existe algum desconforto aqui, na maioria dos senadores, não é algum não, muito desconforto, mas muito desconforto. É preciso ter a clara noção de que aquele senador que nunca disputou uma eleição na vida não tem o mesmo desconforto do que aquele que está sujeito, durante toda a sua vida, às eleições e depende a sua vida basicamente da opinião pública – afirmou Jeressati

Também nesta quarta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou Sarney e disse, em Astana, no Cazaquistão, estar preocupado com o que classificou de “política de denuncismo” do Brasil, referindo-se à revelação dos atos secretos do Senado, que podem passar de 500 .

Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias porque ele não tem fim e depois não acontece nada – disse o presidente à BBC Brasil, antes de embarcar para Brasília – Não li a reportagem do presidente (do Senado, José) Sarney, mas eu penso que o Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum.

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