John M. Roll, 63 anos, é o juiz federal morto no ataque deste sábado (8/1), no estado do Arizona, EUA, em que um atirador vitimou fatalmente outras cinco pessoas, ferindo ainda mais doze. Entre os mortos, além do juiz, estava uma menina de nove anos. E entre os feridos, está a congressista democrata Gabrielle Giffords, que segue hospitalizada em estado grave.
De acordo com testemunhas, durante um encontro organizado entre a deputada e eleitores em um supermercado da cidade de Tucson, Arizona, Jared Loughner, de 22 anos, abriu fogo indiscriminadamente contra o grupo que participava do evento. Entre os presentes, estava o juiz John M. Roll, que não resistiu aos disparos.
Ele foi alvo de centenas de ameaças em 2009. O que fez com que Roll fosse colocado sob proteção policial por meses naquele ano. Contudo, as autoridades estão convencidas de que o crime de sábado foi motivado pela presença da deputada Gabrielle Giffords no local e não tem relação com as ameaças feitas contra o juiz há cerca de dois anos. Por uma fatalidade, o juiz Roll era amigo pessoal de um assessor de Giffords. John Roll estava saindo do supermercado quando, ao ver o amigo participando do evento, resolveu cumprimentá-lo.
Considerada um expoente liberal em meio a um reduto conservador e republicano, Gabrielle conseguiu, em novembro de 2010, se eleger para o seu terceiro mandato na Câmara de Representantes dos EUA. Tida como progressista, culta e articulada, conseguiu deter o avanço do movimento ultraconservador Tea Party em um estado com amplo histórico de apoio a movimentos deste caráter. Enfrentou uma atribulada disputa com seu oponente, o iniciante republicano Jesse Kelly, cujo lema de campanha era “Ajude a tirar Gabrielle Giffords de seu posto no Congresso”. O candidato apelava ainda para que os eleitores o ajudassem, metaforicamente, “a disparar um rifle automático M16 com Jesse Kelly”. Sensível à causa da imigração, a congressista fala fluentemente o espanhol, tendo sido bolsista pela Fundação Fullbright no México.
Homenagens ao jurista
As ameaças feitas ao juiz Roll há cerca de dois anos foram motivadas por uma decisão dele em meio a um conturbado litígio envolvendo imigrantes ilegais e um fazendeiro local do Arizona.
Roll é o primeiro juiz federal morto nos EUA em um ataque desde o trágico caso de Robert S. Vance, juiz de uma corte federal de apelações, vítima de um atentado a bomba em sua casa, no estado do Alabama em 1989.
O presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, o juiz-chefe John G. Roberts Jr., elogiou, em nota oficial, a personalidade e a carreira de Roll, referindo-se a ele como “um sábio jurista” e mencionando ainda a morte do juiz como uma triste lembrança da “importância do Estado de Direito e dos sacrifícios feitos por quem trabalha para protegê-lo”.
Natural do estado da Pensilvânia, John M. Roll foi nomeado para o circuito federal de cortes pelo presidente George Bush em 1991. Presidia um tribunal federal no Arizona desde 2006. Antes da carreira na magistratura federal havia atuado como juiz da corte estadual de recursos no Arizona, tendo, logo depois, trabalhado como assistente da advocacia-geral dos EUA. Sua indicação aos tribunais federais foi feita pelo senador John McCain. Apesar das relações com o Partido Republicano, Roll era considerado um jurista moderado e “politicamente aberto”.
Na manhã desta segunda-feira (10/1), Jan Crawford, especialista em cobertura de temas jurídicos da rede CBS em Washington D.C., lembrou durante o programa CBS Evenings News, que Roll, em meio a ameaças em 2009, fez questão de afirmar “sua fé inequívoca de que não há nada errado em se fazer críticas e discutir sobre decisões judiciais”.
Na tarde desta segunda-feira, o suspeito do ataque, Jared Loughner, foi conduzido por policiais a uma audiência em um tribunal federal de Tucson depois que promotores o acusaram de tentar matar a deputada democrata. Os promotores federais apresentaram as acusações neste domingo (9/1).
De acordo com a promotoria, Jared Loughner já havia tentado entrar em contato e encontrar com Gabrielle Giffords anteriormente. Os promotores citaram um documento que comprova uma carta enviada pela deputada democrata a Loughner, o agradecendo por participar de um evento na cidade de Tucson.